quinta-feira, 14 de junho de 2012

O poema de Lucíola

       Lucíola voltou do colégio inspirada. Era quinta-feira e, novamente, a aula de literatura lhe enchera de inspiração. Primeiro ano, trovadorismo. Tinha entendido tudo: as diferenças entre as cantigas de amor ou de amigo, escárnio ou maldizer. Lembrara do seu professor recitando aquela cantiga de Joan Garcia Guilhade: "E direi-vos que os loarei: / Dona fea, velha e sandia.". Mesmo antes de saber o que era 'loarei e 'sandia', gostava da sonoridade das palavras. Estava preparada para mais um 10 no boletim... e, também, para produzir mais um poema. Eis o trabalho:

Sol poente (Cantiga de amigo)

Eu suspiro noite e dia
pelo amigo que não vem,
-sol poente!

Cantarei de alegria
se o moço chegar bem,
-sol poente!

Estou sempre a esperar
pelo meu amado, oh!
-sol poente!

E quando o moço chegar
Minha vida será sol,
-sol nascente!

Deliciou-se com seu trabalho. Era poeta, sabia que o era. Lera "Cartas a um Jovem Poeta", de Rilke, e estava mais que certa que sequer conseguiria viver sem a poesia na ponta do seu lápis. Mastigou mais uma vez o seu poema, e dessa vez, fez isso bem devagarinho, e notou: "Que merda eu fiz! Terei que reformular a última estrofe ". E refez: 

E quando o moço chegar
Dançarei ao seu redor,
-sol poente!

"Pronto, agora sim, é uma canção de amigo." E continuou a observar da janela o sol poente...







      




4 comentários:

  1. haha, gostei do post didático. Tu és ótima, Elisa.

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  2. Muito obrigado pela visita querida.
    Já tinha saudades daqui!

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  3. Legal, legal. A história de uma poetisa, ficou bom. Um conto com poemas... espero que tenha mais.

    Bjuss

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  4. Adorei.

    Realmente você é D+++.
    A sua história poética de Lucíola, ficou linda

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