sábado, 26 de novembro de 2016

Onde estás, poesia?

Pois meus olhos não conseguem verter as lágrimas,
pois meus pés tropeçam nas meras palavras,
pois meu céu escurece intermitentemente
enquanto a ilusão oscila em minha mente.

Onde estás, poesia, 
que impede de tornar-se vã,
toda essa agonia?  

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

A ti, tu, lá, ação!

Indicador 

Depois de três dias ácidos,
e gotas que caíam a passos curtos, depois largos,
pude notar a vida mudando de cor.
Neutralizando o efeito
do azedume e do torpor
E o seguinte passo é básico:
Cessar de vez as gotas,
Pra que o dia não se torne cáustico.



Inflexão

A guerra entre os dias ácidos 
e a base para a mudança de cor 
parecia uma linha reta
até a brusca inflexão,
onde a cor se sobrepunha fortemente, 
e rapidamente. 

E o equilíbrio que zerou o azedume,
é derivado da curva em que alcancei o pico,
a qual deriva da curva dessa guerra vencida. 


Indicador II

Indica, ardor, quantos pingos vão cair! 
Indica, ardor, qual cor devo vestir!

O curioso caso do Potencial Hidroxiliônico

Pê Agá vagava ´
por um mundo adimensional;
nasceu ácida,
e morrerá cáustica.
Um dia encontrou Pê Ó Agá,
que nasceu cáustico 
e morrerá ácido
Eles se confundem em dias neutros;
e nos outros dias,
eles fervem!







sexta-feira, 3 de abril de 2015

Tímida

Era uma cidade grande, tumultuada, e as pessoas passavam depressa pela moça de vestido marrom. Os que se conheciam passavam sorrindo em meio ao tumuldo, jazindo harmonia, e um em vinte vezes a notava. Os que a conheciam, acenavam, como se estivessem degustando um pouco de uma receita estranha só por ser educados.  Tinham os que sorriam, e outros com suas dores. Tinham que escondiam-se em máscara. O vestido marrom era uma máscara, e continuava observando a cidade pelos olhos da moça. Ora queria "participar", pertencer; ora se sentia indiferente, vazia, sem vontade de. No fundo ela queria despir-se. Vestido marrom, angustiante máscara. Às vezes chegava alguém e, em algum lugar escondido, chegava a levantar o vestido, mostrando um pouco por trás da máscara. Mas só fazia isso se percebesse que o espectador estava muito atendo e, é claro, participante! Porque ela odiava ser tratada por conviniências, por pena, por obrigação. Assim como ela não gostava de agir por conviniências, mas agia... Porém agia mal.

E volta em meia caia tonta. Eita multidão que se movimenta, vive, cria laços, faz piada, ri! Enquanto ela não participa, nem sabe como, nem tem vontade: ninguém liga, ninguém se importa. E então, vestido marrom cansa e deita, deixando-se ser pisada. Até que o tumulto acalme, e alguém a veja, dispe-a, e "participe", deixando ela pertencer. E ela entende. Sai, e não consegue mais olhar nos olhos dessa pessoa, cobaia da sua primitiva necessidade de ser o centro das atenções... a qualquer custo. E vendo que o tumulto continua, ela se esconde, porque percebe que apenas sozinha consegue alcançar seu objetivo. Despe-se como nunca faria em meio ao tumulto, enquanto aplausos invisíveis soam por detrás da cortina. 

Dia

Tem dias que você não é você mesmo
E o vento sopra contra sua vontade
Tem dias que dormir não mata o sono,
e o riso não lhe traz felicidade
Tem dias que há dias já não sente
que de repente, tudo se melhora
Tem dias que a rima é mais presente,
se tudo que te inspira vai embora.
Tem dias que repetem-se as palavras,
repete-se e repete-se esse dia,
e apenas quando se quebra a mesmice,
é que você se decide a não cometer desperdício
de vida.

domingo, 2 de novembro de 2014

Poema de retorno

Então você escolheu apenas o oco,
e se esqueceu de ouvir o eco?
Escolheu calar-se em frente a brisa,
pra não estragar a trança?
Escolheu traçar linhas retas,
e viu que a corda é bamba...
Agora aguente esse poema,
que acabou o samba.
Agora grite seus anseios,
dentro de um boteco.
Pra se embriagar em linhas velhas,
debruçar-se à mesa.
Para esquecer seus fatos fartos,
calar incertezas.
Pra se deixar, sim, ser levado,
pelo vento etéreo.