Era uma cidade grande, tumultuada, e as pessoas passavam depressa pela moça de vestido marrom. Os que
se conheciam passavam sorrindo em meio ao tumuldo, jazindo harmonia, e um em vinte vezes a notava. Os que
a conheciam, acenavam, como se estivessem degustando um pouco de uma receita estranha só por ser educados. Tinham os que sorriam, e outros com suas dores. Tinham que escondiam-se em máscara. O vestido marrom era uma máscara, e continuava observando a cidade pelos olhos da moça. Ora queria "participar", pertencer; ora se sentia indiferente, vazia, sem vontade de. No fundo ela queria despir-se. Vestido marrom, angustiante máscara. Às vezes chegava alguém e, em algum lugar escondido, chegava a levantar o vestido, mostrando um pouco por trás da máscara. Mas só fazia isso se percebesse que o espectador estava muito atendo e, é claro, participante! Porque ela odiava ser tratada por conviniências, por pena, por obrigação. Assim como ela não gostava de agir por conviniências, mas agia... Porém agia mal.
E volta em meia caia tonta. Eita multidão que se movimenta, vive, cria laços, faz piada, ri! Enquanto ela não participa, nem sabe como, nem tem vontade: ninguém liga, ninguém se importa. E então, vestido marrom cansa e deita, deixando-se ser pisada. Até que o tumulto acalme, e alguém a veja, dispe-a, e "participe", deixando ela pertencer. E ela entende. Sai, e não consegue mais olhar nos olhos dessa pessoa, cobaia da sua primitiva necessidade de ser o centro das atenções... a qualquer custo. E vendo que o tumulto continua, ela se esconde, porque percebe que apenas sozinha consegue alcançar seu objetivo. Despe-se como nunca faria em meio ao tumulto, enquanto aplausos invisíveis soam por detrás da cortina.