- Tá demorando.
- O quê?
- Essa coisa de par. Essa coisa de amor.
- Não ama porque não quer.
- Não amo porque não acho ninguém pra amar.
- Eu acho que você não procura.
- Não procuro mesmo. Não sou carente.
- Acho você muito intensa e sensível quando se apaixona. Isso não seria sinal de
carência?
- Não, não, de paixão. Talvez um sinal de insegurança, mas nunca
carência.
- A carência não suprida às vezes gera insegurança em um novo amor.
- Não reclamo da falta de amor.
- Reclama sim, implicitamente. Sente falta. Todo mundo sente.
- É por causa das músicas, dos filmes, das amigas, da tia que quer
saber se você já está namorando, do irmão e do pai ciumentos, do Caio (Fernando de
Abreu), da poesia, da conversa fiada com o moço bonito e até da danada da
professora do prezinho, que ensina a desenhar coração, aquele órgão feio que é
transformado em bonito no papel, sabe? É por todo mundo falar que é bom.
- E é bom.
- Não sei o quanto. Não sei se vou saber.
- Depende de você...
- Não só de mim...
- Aposto que já deixou o amor escapar...
- Sem perceber...
- Precisa ficar atenta...
- Sabe quando você dança? Às vezes, por ficar muito atenta e querer acertar o passo, acaba
ficando tensa. A dança precisa de leveza, precisa que você esteja relaxada,
antes de querer fazer tudo certo.
- É... faz sentido.
- Então estou fazendo certo!
- Você está DIZENDO certo. Não sei se tá fazendo.
- Eu to fazendo...
- Eu acho que você está relaxando demais. Vai acabar dormindo no ponto.
- Dormindo ou acordada, não sei qual é o ponto...
- Só você pode saber...
- (remendando) "Só você pode saber"
- ...